quarta-feira, 19 de junho de 2013

MAGIA POÉTICA

MAGIA   POÉTICA
Paulo  Carneiro

  Convidado por um amigo, Gustavo  foi trabalhar numa determinada empresa ligada a área de prestação de serviços educacionais, situada no interior de Pernambuco. Na data e horário combinados apresentou-se ao diretor da instituição, tendo satisfeito todas as exigências de praxe. Em seguida, no mesmo dia, foi convidado a participar de uma atividade recreativa que deveria instalar-se no salão recreativo da empresa. Aproveitou o intervalo de tempo para conhecer as dependências da empresa. No momento certo, foi conduzido ao salão recreativo, onde recebeu os cumprimentos da coordenadora dos trabalhos. Foi também convidado a sentar-se na fileira de cadeiras, reservada ao pessoal técnico de nível superior. Buscou a observação do ambiente físico e a programção posta em ação. Tratava-se de uma espécie de teatro, bem ventilado e devidamente ornamentado para o exercício da atividade. Existiam em média cerca de 150 pessoas presentes, sendo 70% do sexo feminino, entre : Estagiários, aprendizes, gerentes, funcionários dos mais diversoas níveis.
O roteiro da apresentação do espetáculo era coordenado e  anunciado pela apresentadora, como num programa de auditório. Alguns participantes eram chamados para se apresentarem no palco, pela ordem dos temas abordados... Cantar , tocar instrumentos, dançar, recitar poesias, homenagens diversas, metas da empresa a serem alcançadas....
   Na fase final, cinco pessoas da platéia foram convidadas a pagarem prendas...O tema a ser vivenciado por cada um, estava escrito em bilhetes e só conhecido, ao ser chamado a subir ao palco. Gustavo foi um dos escolhidos por ser novato. Foi o último a ser chamado e alvo de perguntas, tais como : Idade, formação universitária, cidade em que nasceu....
  Satisfeitas as perguntas da platéia, a aprersentadora  abriu o bilhete contendo a atividade que o Gustavo deveria desincumbir-se : "Uma declaração de amor"... endereçada a quem ? Perguntou Gustavo ! A quem você escolher ! Respondeu a apresentadora. Intimamente ele não sabia o que dizer, mesmo assim, dirigiu o olhar à platéia buscando criar ou lembrar-se de qualquer argumento que pudesse convencer a quem viesse escolher. O Olhar parou numa jovem de olhos claros, muito bonita, semblante angelical e sorriso tímido. Ele disse, então ... Aquela ! Eu ? Sim você ! Mas, sou noiva ... A platéia entrou em ação e a jovem terminou por subir ao palco....
    Nesse ínterim, o Gustavo lembrou-se de um poema de amor  de J.G. de Araújo Jorge  (Se )... que caberia, talvez, muito bem. Um pouco nervoso, colocou ternamente uma mão sobre o ombro da jovem e pronunciou, diante do silêncio profundo da platéia :

               Se eu pudesse parar a minha vida
               
               e dar eternidade a um só momento

                se eu tivesse o meu destino preso
               
                ao destino das coisas no espaço...

                se eu pudesse destruir todas as leis

                e dentro desse universo que se move

                parar meu mundo...

                haveria de escolher esse segundo

               em que...você estivesse...

               nos meus...braços !


             
      Momento de emoçaõ, aplausos, comoção, satisfação de  prazer, lágrimas incontidas rolando passo a passo sobre a face, impedida de esconder a emoção.. foi o que se viu e se sentiu após aquele discurso recheado de sentimento amoroso ... Ao final, Gustavo  abraçou a jovem gentilmente,  e ganhou como prêmio a simpatia de um coração que começou a bater em sentido anti-horário ao seu casamento.
      Passados seis meses, algumas vezes o Gustavo encontrou-se  frente a frente com a Heloísa, a jovem alvo da poesia. Nenhuma referência ao acontecimento fora ventilada durante aqueles encontros casuais, porém, alguma coisa ligada ao desejo de se envolverem sentimentalmente, explodia por dentro. Os dois sabiam disso, mas, fingiam por dentro o que o corpo expressava nitidamente por fora. Até que um dia o Gustavo pediu desligamento da empresa, por questões particulares, ficando de voltar para tratar de verbas rescisórias um mês depois. Entretanto, ao chegar a Rodoviária, ainda no dia de sua partida, encontrou a Heloísa que o estava aguardando um tanto quanto aflita. Cumprimentaram-se e ela pediu-lhe para reconsiderar seu pedido de desligamento, visto que , estaria gostando muito dele, e retirando a aliança de noivado do dedo, demonstrou que estaria disposta a tudo por ele.
   Gustavo : Meu amor, entendo perfeitamente o que estamos sentindo, mas, sou casado e tenho um filho com um ano de idade. A minha saída da empresa também está voltada ao desejo de não influir negativamente na sua vida, nem gerar insatisfações ao meu casamento.
    Heloísa : Querido, antes de tomar a decisão de falar com você , ponderei bastante sobre o assunto. Passei noites refletindo, comparei você ao meu noivo, e tudo o que sinto hoje, em termos de sentimento amoroso é o desejo incontrolável de viver com você. Meu casamento acontecerá no próximo mês, se não houver um meio de ficar com você. Estou disposta a tudo, inclusive perder a virgindade com você. Quero, ao menos, eternizar os poucos segundos em que você esteja nos meus braços. Aceita ?
      Após  seis meses , Gustavo retornou a cidade para resolver  algumas pendências e encontrou na Rodoviária a Heloísa grávida, acompanhada do marido. Ela ficou estática, ao vê-lo e disfarçadamente, através de sinais com as mãos apontadas para sua barriga, deixou a entender que o pai daquela criança em gestação era ele, o Gustavo. Retornando ao Recife, e passados vários meses, encontrou-se com uma amiga da Heloísa, quando foi informado de que ela teria dado à luz a uma menina muito bonita, portadora de um sinal no queixo semelhante ao seu. Nunca mais soube de nada, após quase 30 anos passados....   



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